Levantamento da Polícia Civil do Acre revela um dado alarmante: o interior do estado registra número significativamente maior de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes do que a capital, Rio Branco. Entre 2022 e março de 2025, foram 1.115 registros no interior, contra 764 na capital.
A situação mais grave ocorreu em 2024, com 379 casos nos municípios interioranos. Somente no primeiro trimestre de 2025, já são 78 registros fora da capital. Entre as cidades mais afetadas estão Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e Tarauacá.
Em entrevista ao site agazeta.noticiasdoacre.com, a delegada titular da Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (Decav), Carla Fabíola, destacou que o problema vai além da distância geográfica: há um componente cultural e social que contribui para a persistência desses crimes.
“Infelizmente, alguns municípios ainda têm locais muito longínquos e práticas culturais que normalizam o relacionamento entre adultos e meninas menores de 14 anos. Em alguns casos, os próprios pais incentivam essas relações, buscando algum tipo de conforto financeiro”, explicou.
Abusadores são, na maioria, pessoas próximas
Segundo a delegada, o perfil mais comum dos agressores é de pessoas próximas das vítimas: pais, padrastos, vizinhos ou outros familiares. Esse fator torna ainda mais difícil a denúncia por parte das crianças.
“Muitas vezes, quem comete o crime é justamente quem deveria proteger. Os agressores ameaçam, dizem que vão matar os pais ou causar algum mal, e isso gera medo e silêncio”, afirmou.

Para prevenir esses crimes, a Polícia Civil tem atuado com ações educativas em escolas, levando informações tanto para crianças quanto para adolescentes, de forma ível e sensível.
“A gente explica que certos toques não são normais, que não existe segredo entre pais e filhos, e que mesmo com consentimento, qualquer ato libidinoso com menores de 14 anos é estupro de vulnerável”, reforçou Carla.
Perfil das vítimas e obstáculos à denúncia
A maior parte das vítimas são meninas adolescentes, mas há também casos envolvendo meninos — que muitas vezes enfrentam preconceito e medo de serem desacreditados ao denunciarem.
“Os meninos têm receio de falar por medo de serem rotulados. Já as crianças menores, por não entenderem o que está acontecendo, só vão relatar o abuso anos depois, quando já têm consciência do crime”, disse.
A delegada também criticou a cultura do estupro ainda presente na sociedade, que tende a culpar a vítima ao invés de responsabilizar o agressor.
“Não importa como a vítima se veste ou quantos namorados ela teve. Se é menor de 14 anos, o agressor responderá por estupro de vulnerável. Nosso foco é o autor do crime”, enfatizou.
Denúncias e penas
A delegada lembra que qualquer ato libidinoso contra menores de 14 anos é considerado estupro de vulnerável, mesmo que não envolva penetração. A pena pode variar de 8 a 15 anos de reclusão, podendo chegar a 30 anos se houver agravantes, como a morte da vítima.
Canais de ajuda:
– Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (DECAV)
• Especializada no atendimento de casos de violência contra menores.
• Endereço: Rua Hugo Carneiro, nº 301 – Centro (próximo à Gameleira), Rio Branco – AC.
• Telefones: (68) 3224-1158 / (68) 99921-1233 (WhatsApp para denúncias).
• Horário: Segunda a sexta, das 8h às 18h.
– Disque 100 (Disque Direitos Humanos)
• Atendimento nacional e anônimo, 24 horas por dia, inclusive finais de semana e feriados.
• Aceita denúncias de qualquer violação de direitos humanos, com foco em crianças e adolescentes.
– Polícia Civil do Acre – Delegacias nos municípios do interior
• Cada cidade do interior conta com uma unidade da Polícia Civil onde as denúncias podem ser registradas.
• Telefone: +55 (68) 3224-2485
– Conselho Tutelar
• Atua na proteção imediata da criança e adolescente em risco.
• Pode ser acionado diretamente ou por meio da Polícia.
• Em Rio Branco, os conselhos tutelares são divididos por regionais. Exemplo:
• Regional Calafate: (68) 99951-8914
• Regional Estação Experimental: (68) 99951-9680
– Aplicativo Proteja Brasil (gratuito)
• Desenvolvido pelo Unicef e Ministério dos Direitos Humanos.
• Permite localizar o posto de denúncia mais próximo, com endereços e contatos.
• Disponível para Android e iOS.
– Ministério Público do Estado do Acre (MPAC)
• Recebe denúncias online e presencialmente.
• Canal digital: https://www.mpac.mp.br/ouvidoria
• Central Gratuita de Atendimento da Ouvidoria: 0800 970 2078 E-mail: [email protected]
Denuncie!
Produção: Danniely Avlis e Gisele Almeida / Entrevista: Natália Lindoso