A jovem Keveli Braz da Cruz, de 20 anos, perdeu o filho recém-nascido após esperar por dois dias por atendimento na recepção da Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco. O caso aconteceu no último fim de semana, e a família alega negligência médica por parte da unidade de saúde. Segundo relatos, Keveli deu entrada no hospital no domingo, 1º de junho, com fortes dores e sinais de trabalho de parto, mas teria sido orientada a voltar para casa.
Com base nas informações readas pela família da Kevelin, ela decidiu permanecer na unidade de saúde, pois alegava dores intensas e contrações frequentes. Apenas na terça-feira (04), depois de ar dois dias dormindo no banco da recepção, foi finalmente atendida em um leito, mas o bebê não resistiu após uma infecção pulmonar.
“Só foi atendida na terça-feira, era por volta das 7 horas da manhã, quando veio o médico para examiná-la e falou que não iria fazer a cesárea. Foi quando ele pediu uma cardio, e viram que os batimentos do bebê já estavam bem diminuídos. Com isso, decidiram levar ela para uma cirurgia de emergência, e depois tiraram o bebê, pois ele já estava quase praticamente sem vida”, diz Liberdade Braz, mãe de Keveli.
Mãe do segundo filho, Keveli diz que chegou a informar que não teria condições de ar por parto nomal, mas teria sido ignorada.
“Eu procurei o hospital porque eu estava em trabalho de parto, porque eu não tenho parto normal, e eles queriam me obrigar a um parto normal. Eu pedi pela minha cesárea e eles disseram que não tinha como fazer, porque eles não podiam optar. Só que já era escolha minha, porque eu já estava com 40 semanas para fazer a cesárea. Eles falaram que iriam me internar para fazer na quarta-feira, que no caso seria ontem. Mas fizeram minha cesárea na terça-feira, em último caso, porque meu filho morreu. Fizeram a cesárea porque eu fui para uma cardio, aí nos batimentos do neném viram que estavam bem fraquinhos. O neném fez cocô na minha barriga, ele respirou as fezes, aí deu infecção no pulmão dele e ele morreu”, relata a mãe.
Dona Francisca Gomes, amiga da família, espera que este caso não fique impune e fala em nome das mães acreanas.
“Eu quero estar aqui representando como mãe, porque é muito difícil para uma mãe perder seu filho — ainda mais uma mãe que estava fazendo as roupinhas, arrumando a bolsa. Isso é muito difícil. Uma mãe pode ter dez filhos, mas ela não quer perder um filho”, afirma Francisca Gomes, amiga da família de Keveli.
Enquanto a nossa equipe de reportagem gravava com a família, outro relato parecido veio à tona. O pedreiro Eluísio Barros, contou que sua esposa também aguardava horas por um leito na recepção da maternidade, em trabalho de parto, e sentindo fortes dores.
Cheguei aqui às 7 horas, minha esposa ficou aguardando até umas 10 horas da noite. Meia-noite foi que ela veio ser atendida — atendida assim, de qualquer jeito, porque ela já estava com 41 semanas. Aí ontem o médico disse que iria atender ela, que iria fazer o parto cesáreo. Aí hoje à tarde já foram induzir o parto. Até agora ela está aguardando um leito. E não é só ela, várias mulheres estão esperando até agora. Várias pessoas aguardando no banco da recepção”, relata o pedreiro Eluísio Barros.
A família de Keveli segue cobrando justiça e providências, para que nenhuma outra mãe e por esse tipo de sofrimento.
“Isso não se faz com ninguém, não. Eu sou ser humano, meu filho também era um ser humano, era uma vida. Meu filho é lindo, perfeito. Deixaram meu filho morrer. Eu só quero justiça pela vida do meu filho. Eu sei que isso aqui não vai trazer ele de volta, mas eu quero justiça. Porque isso aqui, nenhuma mãe merece ar por isso. É uma dor inexplicável”, desabafa Keveli Braz, vítima.
Nossa equipe entrou em contato com a Maternidade, mas a direção informou que não dará entrevista, apenas enviou uma nota sobre o caso. Veja a nota abaixo:
A Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), por meio da direção da Maternidade Bárbara Heliodora, se solidariza com a dor da família e informa que, embora as decisões médicas sejam prerrogativas da equipe responsável, o Comitê de Prevenção do Óbito foi devidamente notificado e acompanhará o caso. A gestão permanece à disposição para colaborar com as investigações e reafirma que preza pela apuração rigorosa dos fatos, conduzida de forma ética e imparcial.
Edvaldo Amorim – Direção da Maternidade Bárbara Heliodora.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Marilson Maia para o Balanço Geral