A pluralidade cultural brasileira pode ser medida por meio de festas, rituais, celebrações, territórios e práticas cotidianas. Mas você já parou para pensar qual é o evento cultural mais importante da sua cidade? Ou qual espaço cultural você mais frequenta? Essas e outras perguntas fazem parte de uma pesquisa nacional divulgada nesta terça-feira (3), sobre hábitos culturais no Brasil, realizada pela JLeiva Cultura & Esporte em parceria com o Datafolha.
Em Rio Branco, capital do Acre, a festa junina e os arraiais foram apontados como os eventos culturais mais importantes pela população, com 28% das menções. Em seguida aparecem eventos relacionados à agricultura (16%), como a Expoacre, e o Carnaval (8%).
Entre os espaços culturais mais frequentados, as praças, parques e jardins se destacam com 36% das respostas, à frente de shoppings, igrejas e bibliotecas. O Parque Ecológico Chico Mendes, a Praça da Revolução e o Calçadão da Gameleira estão entre os locais mais citados espontaneamente pelos entrevistados.

“A pesquisa destaca é a importância de praticamente todos os espaços públicos para as atividades culturais. Dos espaços de maior porte, icônicos e de potencial turístico, à rua, à praça, à quadra esportiva e ao bairro em que as pessoas moram”, afirma João Leiva, coordenador da pesquisa e diretor da JLeiva Cultura & Esporte.
Outro dado que chama atenção é a presença nas festas populares: 77% dos entrevistados afirmaram já ter participado de festas juninas, enquanto 32% participaram de blocos ou desfiles de carnaval. Quando perguntados se foram a alguma festa além das juninas e de carnaval, as manifestações religiosas aparecem com maior destaque (6%), seguidas das festas do boi (3%).
Para João Leiva, os dados mostram que a cultura vai muito além das expressões artísticas tradicionais como teatro e cinema.A pesquisa nacional foi aplicada em 12 capitais brasileiras, incluindo Rio Branco, e ouviu mais de 10 mil pessoas. Além de mapear preferências e comportamentos, o levantamento também investigou o que a população pensa sobre políticas públicas, financiamento da cultura e o a bens culturais.
“Cultura não é algo separado da vida cotidiana. Está na festa do bairro, na banda da escola, no grupo de capoeira, no bar que toca música ao vivo. Quando o poder público investe nisso, está investindo em bem-estar, em educação”, defende João Leiva.

Desafios e invisibilidades culturais
A pesquisa reconhece limitações importantes, especialmente no que diz respeito à representação da cultura indígena e de expressões periféricas. Leiva aponta que, por se restringir às capitais e usar categorias amplas, parte da diversidade cultural local pode acabar invisibilizada.
“Sabemos que manifestações tradicionais de pequeno alcance exigem amostras maiores e questionários adaptados à realidade local. Isso ainda não é possível com os recursos que temos hoje, mas pretendemos avançar nesse sentido”, afirma.
A expectativa da JLeiva é que os dados sirvam de base para a formulação de políticas públicas e decisões privadas no setor cultural. Um dos objetivos é identificar grupos com menor o a atividades culturais — como pessoas com baixa escolaridade, idosos e moradores de regiões afastadas — e, assim, promover ações inclusivas.
“Já temos relatos de instituições e secretarias que ajustaram editais ou reavaliaram programações com base na pesquisa. Mas o uso de dados ainda é um aprendizado em andamento no setor cultural brasileiro”, avalia Leiva.
A consultoria também organizou em outras capitais seminários e reuniões com gestores públicos e agentes culturais para debater os resultados de forma segmentada, abordando temas como artes cênicas, museus, música e questões raciais.